A Condenação de Sisifo
Segundo uma das lendas gregas, o rei Sísifo foi condenado a repetir uma tarefa inútil; carregar pedras, pelo resto da vida, até o topo de uma montanha para que elas rolassem de ladeira abaixo. Apesar da condenação, Sísifo se tornou famoso como símbolo da futilidade, expresso muito bem na obra de A. Camus. Operar na bolsa de valores não é fácil e muitos vão ficar conhecidos pela persistência em cometer os mesmos erros. Esses, não conseguem se livrar do hábito de perder e de repetir tarefas inúteis.
Observações rotineiras sobre os tipos que operam o mercado de ações podem ajudar a entender porque apenas uma minoria ganha dinheiro operando na bolsa. Tudo está ligado a inteligência emocional dos operadores. Até agora, podemos identificar 3 tipologias diferentes. A primeira é a dos iludidos pela fé. Esta tem dois grupos: Aqueles que só acreditam no que vê; e os que só vê o que acreditam.
Os que só acreditam no que vê têm pouco senso crítico; teimam em afirma que sem fé não se pode fazer nada. E assim, tratam de fortalecer a fé examinando somente os dados e os fatos que fortalecem a intuição pessoal. Para estes, não faltam justificativas para operar contra a tendência. E quando a fé ultrapassa os limites da racionalidade, eles se agarram às mais esdrúxulas teorias, acreditando em coincidências e rejeitando informações que contrariem a visão pessoal do mercado.
No segundo grupo, estão aqueles que não acreditam em nada, e insistem que não adianta estudar o mercado ou os fundamentos das ações porque a bolsa é um cassino dominado por grandes players. Esses, apesar do ceticismo, são acríticos; desprezam os números e jogam com a sorte ignorando a probabilidade do jogo. São famosos por criar set-ups e métodos pessoais para adivinhar a direção dos preços ou medir o tamanho dos movimentos.
A segunda tipologia é a dos “espertos”. Estes são especialista numa faceta do mercado. Temos os que são mais sofisticados, mas são puristas que só acreditam nos fundamentos. E temos os que desprezam os fundamentos e só operam com gráficos. Nenhum dentro dessa tipologia desconfia de que ignorar outros dados pode sair bem caro. Esses se orgulham de ser práticos e preferem desprezar certos conhecimentos; alegando algumas particularidades inaplicáveis à negociação de ações. E assim, procuram atalhos curtos para chegar ao palácio, mas terminam nas favelas.
A última tipologia é formada por uma minoria, mas nada pura. Estes são mais sofisticados e jogam com probabilidade. Eles reconhecem que devemos respeitar todas informações, os gráficos e os fundamentos da empresa. Entendem também que quando a economia não vai bem, os mercados sofrem e murcham por falta de expectativas positivas. Sabem muito bem e aceitam liberalmente que lidamos com causa e fatores desconhecidos. Usam a probabilidades para seguir o caminho mais provável dos preços e não medem esforço pra entender outros fenômenos correlatos.
Independente da tipologia onde nos encontramos, é fundamental respeitar a tendência, verificar os fundamentos de uma empresa e acompanhar o comportamento dos preços. Isso não garante lucros, mas sabemos disso! Ninguém duvida que seja importante aumentar a segurança e diminuir a incerteza em todas as tarefas que executamos. Por que insistir nos mesmos erros quando é possível diminuir o risco e aumentar a chance de se ganhar? A lição de Sísifo é bem clara; permitir que os lucros subam e desçam ignorando a tendência é a maior futilidade que se pratica no mercado. Não devemos desprezar os conhecimentos pois a ignorância sai bem mais cara do que o saber.
Em qualquer tipologia, a presunção do saber sempre ultrapassa a humildade do conhecimento. Pode ser difícil, mas temos que ser realista e aceitar as indicações do mercado. Como dito antes, os indicadores não garantem lucros mas constituem o melhor meio pra se controlar o desejo de operar em tendência de queda.
A tragédia de se jogar contra a tendência, desrespeitando os indicadores, às vezes, dá certo! Quando isso acontece, é natural que o executor encha o peito e congratule-se pela boa jogada. Quando as jogadas não dão certo, o rancor e a decepção aumentam. Os que não se convencem do erro, porque só acreditam em seus setups pessoais, culpam os outros. Talvez porque ignoram ou não entendem o sentido e a força da probabilidade, esperam algo mecânico acontecer. Estes para se protegerem das críticas se agarram as explicações impossíveis de serem testadas.
Infelizmente o mercado não tem consistência das máquinas do tempo ou da mecânica cartesiana. As coincidências existem, mas são o que a própria palavra indica. Uma jogada errada que deu certo uma vez, raramente se repete outras vezes. Os que se convencem por fatos isolados e coincidências generosas, marcham como heróis pela avenida da insensatez, procurando culpados.
É importante lembrar de que, quando o mercado está fraco, a maioria das ações entra em tendência de baixa. Dentro de qualquer tendência pode haver repiques que não constituem pontos de entradas. E, em todos casos, deve-se obedecer a regra do alinhamento para evitar a divergência de movimentos visto nos gráficos em tempos diferentes.
No mercado de ações se pensa do geral pra o particular. Por exemple, não precisa ser um gênio pra saber que a economia brasileira e as outras não vão bem. A maioria das ações está em tendência de baixa, e as oportunidades de se ganhar nesse mercado são poucas e distantes entre si. Os fundamentos não devem mudar tão cedo porque a crise é mundial. Nessas condições, a escolha é difícil e exige uma apuração maior dos fatos que ligam os mercados. É essencial esquecer a intuição, e respeitar os conhecimentos. Em qualquer situação de risco, olhar para os dois lados aumenta-se o nível de segurança. Os gráficos e os fundamentos são importantes para entender a direção dos preços, mas obedecer a tendência e desconfiar dos repiques é tão essencial que revelam até o poder da mente pra controlar a impaciência de se operar na hora errada!
Boa Sorte,
Prof. Metafix