Cruzeiro do Sul acende luz amarela para bancos médios
Com a queda da taxa de juros Selic, os bancos pequenos e de médio porte têm que aumentar os riscos de suas carteiras
Com a queda da taxa de juros Selic, os bancos pequenos e de médio porte têm que aumentar os riscos de suas carteiras
Apesar de os bancos serem diferentes, e os casos serem pontuais, mercado fica com um pé atrás, dizem analistas
Os bancos médios brasileiros não são iguais. Muitos deles atuam em nichos diferentes, e seus riscos também são variados. No entanto, apesar de ser considerada um caso pontual, a liquidação do Cruzeiro do Sul acende uma luz amarela nos mercados, que passam a observar os bancos médios com mais atenção, segundo analistas.
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“Ainda que cada banco tenha suas características, o próprio mercado começa a restringir suas relações com as instituições menores,” diz Alberto Matias, professor titular da FEA-USP de Ribeirão Preto. Ele comenta que não apenas os clientes, mas também as instituições financeiras, entre si, começam a ser mais cautelosas em seus negócios bancários.
Apesar do aumento dos cuidados, os acontecimentos recentes com instituições pequenas e médias, como os bancos Santos e Panamericano e, agora, Cruzeiro do Sul – isso não significa que há outros problemas semelhantes por vir. “A fraude do Cruzeiro do Sul é pontual, assim como foi a do Panamericano,” comenta Rodolfo Amstalden, analista da Empiricus Research. Na opinião dele, como o Banco Central ficou mais atento aos bancos deste a crise de 2008, acabou ficando mais fácil de identificar problemas.
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Alexandre Chaia, professor de finanças do Insper, concorda que os últimos casos não refletem a realidade de todos os participantes desse mercado.
Os analistas admitem, entretanto, que os bancos estão enfrentando dificuldades recentemente. Chaia destaca a questão do financiamento ( “funding”, no jargão do mercado), que é obtida pela maioria dos bancos médios de outros bancos de mesmo porte, que cobram juros maiores por conta do risco maior de quebra que essas entidades representam.
Além das dificuldades que encontram no mercado interbancário, muitos também dependem dos Fundo de Direito Creditório (FDIC) – para onde transferem suas carteiras e, com isso, ganham taxa de administração e liquidez para outras operações, mas com riscos de crédito e de mercado -, diz Matias.
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Além disso, os bancos médios e pequenos correm riscos específicos dos nichos que operam. Alguns atuam mais como financeiras, têm rentabilidade alta, mas risco alto também. Outros têm foco em crédito de veículos, e acabam correndo risco de serem vítimas de fraudes por conta das estruturas de comissionamento das lojas. Outros, como o Cruzeiro do Sul, atuam mais fortemente com consignado, que apesar de ser considerado um nicho de menor risco, não está isento de perigos.
Neste momento, acrescenta o professor, enfrentam uma agravante que é a redução dos juros. Com a queda da Selic, os bancos pequenos e médios têm que aumentar os riscos de suas carteiras.
Um dos indícios de que algo pode estar errado em um banco médio, diz Chaia, é quando o ritmo de crescimento dos ativos começa a se estagnar e o banco passa a vender suas carteiras para repor eventuais perdas. “Quando os ativos estabilizam significa que a instituição chegou ao limite de fôlego e que não está produzindo nada de novo. O banco chegou ao limite da capacidade de funding próprio e de seu índice de Basileia”, afirma Chaia.
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Mudanças bruscas nos índices de inadimplência e insolvência também podem dar um indicativo de problemas à vista, acrescenta Matias, da USP.
Para quem pretende investir nos bancos médios, Amstalden, da Empiricus, alerta que é preciso ter cuidado porque, em geral, são instituições que geram pouco retorno. “Não acho que são arriscados, mas são poucos que têm retornos sobre patrimônio líquidos interessantes,” afirmam.
Recentemente, em um relatório sobre o setor, o banco HSBC alertou seus investidores que os bancos médios dedicados ao consignado estão em um “ambiente de difícil captação”. No documento, divulgado no final de julho, os analistas do banco afirmam que menor crescimento do crédito, a piora da qualidade dos ativos e os impactos da queda de juros na margem de intermediação financeira são desfavoráveis às instituições.
e Olívia Alonso, iG São Paulo |