Pregões Incríveis: primórdios da bolsa de Nova York, à sombra de árvore em Wall St

04/08/2012 23:34

 

Por: Nathália A. Terra Pereira
12/03/10 - 20h08
InfoMoney

 

SÃO PAULO – Falar do quanto Wall Street mudou nos últimos anos com as turbulências da crise virou tópico comum nas conversas. Poucos sabem, no entanto, das origens históricas da rua que se tornou sinônimo de poder financeiro. Assim, nesta sexta-feira (12), Pregões Incríveis volta mais de duzentos anos no tempo para tratar de um dia histórico: 17 de maio de 1792.

Hoje tomada por arranha-céus e sedes de instituições financeiras, Wall Street era bem diferente no final do século XVIII, com sua paisagem dominada por pequenos estabelecimentos comerciais como armazéns e açougues familiares. Ainda assim, a rua já começava a abrigar algumas das primeiras transações financeiras no país, recém liberto do jugo colonial inglês.

O começo do começo
Em 1790, o governo federal norte-americano decidiu refinanciar suas dívidas contraídas na guerra de independência ante à Inglaterra, emitindo cerca de US$ 80 milhões em títulos. O valor hoje é simplório, mas o episódio foi um marco no desenvolvimento do sistema financeiro dos EUA.

Assim como no Brasil, onde a primeira bolsa fundada foi, na verdade, no Rio de Janeiro, a primeira bolsa norte-americana foi a da Filadélfia, criada justamente em 1790. Além dos títulos de dívida do governo, alguns poucos papéis de bancos recém fundados também eram negociados na cidade que, à época, era a capital temporária do país.

Nova York, no entanto, começava a despontar economicamente. Com a prosperidade do comércio, empresários passaram a se aventurar na compra e venda de títulos, loterias e ações. Os negócios eram realizados sobretudo ao pé de um plátano no começo da Wall Street, de forma informal, com interessados e vendedores anunciando verbalmente suas ofertas.

O acordo de Buttonwood
A ausência de um arranjo sistemático que melhor organizasse as transações, entretanto, começou a pesar sobre o desenvolvimento dos negócios. Desta necessidade, no dia 17 de maio de 1792, vinte e quatro corretores decidiram, ao pé do mesmo plátano, fundar uma comissão para unificar regras e tarifas: era o primórdio da New York Stock Exchange, a NYSE.

 

Árvore de plátano sob a qual eram realizadas as primeiras transações em Wall Street

 

O acordo, hoje conhecido como Buttonwood Agreement – em português, O Acordo de Buttonwood, como é conhecida a árvore de plátanos em inglês -, tinha dois preceitos básicos. O primeiro estabelecia que seus vinte e quatro signatários fossem formalmente compelidos a negociarem somente entre si. Nenhuma sanção para tal descumprimento, no entanto, constava do documento.

A segunda cláusula do acordo estabelecia uma taxa de comissão mínima de 0,25% para qualquer transação realizada, a fim de custear os gastos do órgão. Logo, regras mais burocráticas, que visavam estabelecer protocolos para os pregões, também foram criadas. Um ano depois, o clube instalou-se em um imóvel também na Wall Street, a fim de que as negociações não fossem prejudicadas pelas condições climáticas.

De lá para cá...
Concorrendo com a bolsa da Filadélfia, a comissão começou a deliberar sobre o ingresso de novos membros no começo do século XIX. Os interessados em juntar-se ao clube deveriam pagar uma taxa em torno de US$ 20 e terem suas credenciais aprovadas em votação pelos membros já efetivos.

As ações eram negociadas uma a uma, em pregões conduzidos pelo presidente da comissão, ainda sem um nome formal. Para se ter uma ideia do rápido crescimento do clube, em 1792, historiadores estimam que somente seis papéis fossem negociados; em 1800, tal número havia saltado para vinte ativos; em 1835, os membros da comissão tinham ao seu dispor 121 ações disponíveis para transações.

Foi somente em 1817, entretanto, que a comissão estabeleceu um estatuto jurídico interno, adotando seu primeiro nome: New York Stock and Exchange Board. De lá para cá, desnecessário dizer o quanto a bolsa nova-iorquina cresceu: sua capitalização de mercado supera os US$ 30 trilhões. E pensar que tudo começou com um acordo entre vinte e quatro investidores, à sombra de uma árvore em Wall Street.